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Como fica a situação do descenso

O futebol argentino vive uma situação inusitada: 4 equipes ascendidas, todas com bom desempenho na primeira metade da temporada. A novidade faz com que a luta pelo descenso ganhe contornos dramáticos e fique mais imprevisível do que nunca. Confira a situação das equipes que lutam contra o descenso ao final do Apertura.

Antes de tudo é importante lembrar da ambiguidade do sistema de promedios. A fórmula normalmente protege as equipes principais, já que uma má temporada pode ser compensada por outras melhores. Mas o oposto também pode acontecer: o River teve de disputar a Promoción ao fim de uma temporada em que fez 57 pontos, em função de duas temporadas ruins. E as equipes recém ascendidas vivem uma situação ímpar: como só podem contar com a pontuação de uma temporada, cada resultado tem um peso proporcionalmente maior. Uma temporada ruim os condena ao rebaixamento, mas uma temporada boa leva essas equipes a uma situação invejável.

O que significa que a performance dos novatos sempre dá um tom de imprevisibilidade à luta contra o rebaixamento. Principalmente na atual temporada, que tem quatro equipes recém-ascendidas. Se todas fossem mal, as demais não teriam com o que se preocupar. Mas o que se tem visto é exatamente o oposto. Com os quatro promovidos tendo bom desempenho, é inevitável que os clubes que não tiveram boas temporadas recentes se vejam em apuros.

A princípio é importante ressaltar o seguinte. Normalmente, equipes com uma média anual de 45 pontos costumam se salvar. E jamais houve quem tenha ficado entre os quatro últimos com uma média anual de 48. O que significa que uma equipe que sobe deve ter esses números em mente para lutar pela salvação. As equipes que contam duas temporadas no promedio precisam de 90 pontos para ter boa chance de se salvar e 96 pontos para se considerarem livres. E para os clubes que somam pontos em 3 temporadas os números são respectivamente 135 e 144.

Ocorre que os quatro novatos tiveram pontuações acima de 24 pontos no Apertura, o que significa que se repetirem a performance no Clausura estarão praticamente livres do descenso. Com 31 pontos o Belgrano só cairá em caso de desastre. San Martin e Rafaela terminaram com 26, e chegarão ao número mágico mesmo com uma campanha um pouco inferior na segunda metade da temporada. Mesmo o Unión, o pior dos quatro, chegou aos 25 pontos, e precisa de mais 23 para chegar à pontuação que até hoje garantiu a sobrevivência na elite.

A situação tão peculiar afetou em particular duas equipes, que se encontram na zona de descenso direto. Com apenas 82 pontos somados nas duas temporadas anteriores, o Tigre precisaria de cerca de 60 pontos na atual para se salvar, e os 27 pontos conquistados no Apertura não bastaram para o Matador respirar. Se não fizer algo como 35 pontos no Clausura, o clube de Vitória dificilmente sobreviverá na elite. O problema do Olimpo é o oposto: com apenas 16 pontos no Apertura, e apenas mais uma temporada a ser tomada em conta, os aurinegros precisarão dobrar a pontuação do último torneio para se salvarem, algo que hoje parece pouco provável.

Outro que está em situação delicada é o San Lorenzo. Com 118 pontos, o clube de Bajo Flores precisa ter um Clausura superior ao Apertura, no qual somou apenas 19 pontos, para se salvar de uma imprevisível promoción. Se não fizer algo como 25 pontos no próximo torneio, crescem as possibilidades de termos outro grande lutando contra o descenso. O mesmo vale para o All Boys, que na somatória da temporada passada com a atual tem 72 pontos. Se não fizer mais que os 21 que conseguiu no Apertura, o clube da Floresta se verá em situação difícil.

E há ainda uma possível surpresa: o Newell’s. O clube rosarino entrou na temporada com 112 pontos, mas terminou o Apertura com apenas 15 pontos. Se repetir a performance medíocre no Clausura poderá terminar a temporada na briga contra o descenso. E mesmo que se salve, entrará na próxima temporada em sérios apuros, pois não poderá mais contar com os 69 pontos da ótima performance da temporada 2009/10. O mesmo vale para o Banfield, que fez apenas 58 pontos na somatória da última temporada com o Apertura. Se ambos repetirem o desempenho no Clausura, provavelmente sobreviverão, mas terão de fazer algo como 60 pontos na temporada seguinte apenas para sonhar com a promocion, e por volta de 75 para se salvar do pelotão dos quatro últimos.

Mas há algo que pode modificar todo o cenário. Se uma ou mais das equipes que voltaram à primeira tiver um declínio de produção no Clausura, tudo muda. San Martin, Unión e Rafaela podem fazer algo como 15, 18 ou 20 pontos no Clausura, e se verem ameaçados novamente pela degola. Mas se repetirem a pontuação do Apertura, a situação será duríssima para as equipes que pontuaram pouco nas últimas temporadas.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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