Foi na Argentina que Jonah Lomu venceu uma Copa do Mundo pelos All Blacks

Saudado pelos argentinos após a semifinal. Phelan o abraça. À direita, Pichot e Contepomi

Quem viu Invictus sem conhecer rúgbi deve ter ficado ao menos com vaga noção de quem foi Jonah Lomu. O filme não o exalta por acaso: foi o primeiro ídolo pop em escala mundial neste esporte, que começava a se profissionalizar. Com uma velocidade incomum para seu peso, era uma máquina de tries, sendo quem mais vezes conseguiu tries na Copa do Mundo – e é o único tryman em duas. O mesmo organismo, porém, guardava uma deficiência renal. Isso brecou-lhe a carreira, e ontem, precocemente, para incredulidade geral, a vida. Lomu já era uma lenda, mesmo sem ter vencido a Copa do Mundo. Na verdade, ele venceu sim: no rúgbi sevens, e na Argentina.

O rúgbi sevens, cujo nome deve-se aos sete minutos de cada tempo (ao invés de quarenta) e a sete jogadores por equipe (em vez de quinze), foi criado ainda no século XIX e mostrou-se ideal como forma de introduzir o jogo em país sem tradição no rúgbi. É este o formato que será adotado na volta do rúgbi às Olimpíadas, ano que vem, pois permite que a mesma equipe jogue mais partidas em espaço de tempo menor. As grandes seleções travam todo ano uma série mundial, com diversas etapas em sedes diferentes. E a cada quatro anos, desde 1993, disputam a Copa do Mundo deste formato.

Mar del Plata sediou a Copa de Sevens em 2001, no que ainda é o maior evento de rúgbi já ocorrido nas Américas. Contou com desde as tradicionalíssimas Nova Zelândia, África do Sul, Austrália, Inglaterra, País de Gales, Irlanda, França, Fiji e Samoa a (dentre outras) seleções das Ilhas Cook, Hong Kong, Coreia do Sul, Zimbábue, Rússia, Taiwan e Quênia, algumas delas de fato fortes no sevens ainda que relativamente inexpressivas no formato de quinze jogadores.

Foi mesmo bastante especial aos hermanos, pois foram muito longe também. Além de estarem em casa, mesclaram alguns nomes da primeira vez em que avançaram de fase na Copa do Mundo “normal”, em 1999 (como Santiago Phelan, que viria a ser o técnico da Argentina na edição de 2011), com outros que alcançariam o bronze na Copa de 2007, o mais alto que os Pumas chegaram ao pódio – casos de Diego Albanese, Felipe Contepomi e do icônico capitão Agustín Pichot.

Foi justamente naquela Copa de Sevens que o país chegou pela primeira vez em uma semifinal mundial da bola oval, seis anos antes de 2007. A campanha rendeu, nas quartas-de-final, a primeira vitória sobre uma seleção principal da África do Sul – que contava com o ponta Chester Williams, outro jogador destacado em Invictus (por ser o único negro nos Springboks de 1995). Outro que já havia participado de mundiais do formato XV a vir foi Waisale Serevi, considerado “o rei do rúgbi sevens”. Sua seleção, Fiji, foi a primeira bicampeã da Copa da modalidade reduzida e inclusive liderou na fase de grupos a chave que tinha a anfitriã Argentina.

Mas a empolgante participação puma só parou diante de Lomu & cia mesmo. Se na modalidade XV, em razão da velocidade dele, os neozelandeses se permitiam a grande sacada de não coloca-lo entre os forwards (posições normalmente reservadas aos mais parrudos) e sim como ponta, no sevens a estrela realmente ficou entre eles – usou a camisa 1, reservada à posição de pilar. Os All Blacks relembraram 1995, com grandes goleadas mesmo sobre seleções tradicionais. Nas quartas-de-final, os neozelandeses já haviam aplicado um 45-7 em Samoa. Contra os argentinos, impuseram um 31-7.

Mas, diferentemente de 1995, levaram o título, justo em um clássico com a Austrália (também amassada, por 31-12), tal como na final de XV travada há algumas semanas – em uma das últimas aparições públicas de Lomu, fotografado acompanhando pessoalmente o torneio.

Foto de divulgação do mundial, com África do Sul, Austrália, Gales, Nova Zelândia, Fiji, Argentina e Inglaterra. O argentino é Pichot e o fijiano é outra lenda, Serevi
Lomu, à esquerda, com a taça de campeão da Copa do Mundo de Sevens
Lomu e colegas celebrando o título com o haka
Lomu em outro haka, mais recente – a foto é de semanas atrás, em confraternização maori durante a Copa do Mundo de Rúgbi XV, na Inglaterra

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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