Primeira Divisão

Liderança sim, mas sem futebol

Um fim de tarde em que a torcida do River foi ao Monumental, como sempre. Esperava por uma boa apresentação da equipe, que postulava a liderança da competição. Só que o rival, Colón, esteve longe de apresentar um futebol razoável, decente e compatível com uma equipe da elite argentina. Sua apresentação denunciou os seus problemas de vestiário, que são graves. E até por causa disso, o River também não jogou nada. Um jogo horroroso. No fim, o 2×1 significou a liderança isolada para o Millo. Ao menos até amanhã, quando o Lanús recebe o Arsenal, no Sul da Grande Buenos Aires.

Nos primeiros instantes, nada de grandes jogadas de ataque. River e Colón tentavam protagonizar o domínio da pelota, mas não materializavam suas intenções em chegadas claras ao arco do rival. Só que o Millo se mostrava ligeiramente melhor que o conjunto de Santa Fe. O fato é que os homens do meio-campo sabalero tinham de marcar o River Plate de maneira prioritária. Só que, em vez disso, só queriam criar. Vai lá se tivesse condição para isso. Mas não era o caso.

Desta forma, o River conseguia sair bem pelos flancos e mesmo por um centro congestionado, mas mal protegido pela defensiva sabalera. Assim foi que logo na primeira boa chance o Millo chegou lá. Cruzamento para a área e Pozo cortou mal. Trezeguet se aproveitou e guardou: River 1×0, aos 11 minutos de jogo.

Bastou isso para o Colón morrer de vez dentro da cancha. Seus jogadores não atacavam e não sabiam mais o que fazer com a pelota, quando a recuperavam ou a retinham nos pés. Sem cobertura para os lados do campo, também a sua retaguarda ficava desguarnecida. O River não demorou para perceber isto. É que curiosamente o conjunto local ganhava um cotejo com facilidade, mas sem jogar um bom futebol. A vantagem do River se resumia mais na péssima apresentação do Sabalero do que numa performance razoável de seus jogadores.

Em dez minutos, o Colón ainda teve duas chances. Uma delas aos 28 minutos, após uma atrapalhada de Carlos Sánchez. Aos 37, Bastiá recebeu uma pelota cruzada da direita e cabeceou para a boa defesa de Barovero. Só que o River foi mais eficiente e chegou lá novamente. Aos 33, Rodrigo Mora conduziu pela direita e serviu Leonardo Ponzio na entrada da área. Ficou fácil penetrar na defensiva sabalera e guardar: 2×0.

Na segunda etapa, a situação foi ainda pior para o Sabalero. Pareceu até que não foi para o intervalo e que nada ouviu do técnico Sensini. Voltou bem pior e exigiu ainda menos do River, na cancha. Um dos problemas era que Curuchet foi escalado para puxar os contragolpes do Colón. Só que a pelota ou chegava mascada ou não chegava para o atacante. E se ele precisava voltar para buscar o jogo, o efeito era que o time ficava com praticamente cinco homens no congestionado meio-campo, enquanto Gigliotti permanecia solitário e sem função, no ataque.

Foi então que o River resolveu tirar o pé de vez. Deixou ver o que aconteceria por parte do rival. Não viu absolutamente nada. Não que o Sabalero não tivesse uma ou duas chances. Até que teve. Só que quando isto raramente ocorria então o problema passava a ser o da definição de jogadas. Para atenuar este problema, Sensini resolveu colocar Lucas Mugni na peleja. O time melhorou na mesma proporção de nossas dúvidas: “por que deixar um jogador como Mugni no banco de reservas?”

Já o River, parecia contaminado pela modorra sabalera. Quando o rival melhorou, o Millo seguiu com sono e disposto a complicar um jogo fácil. Os espaços eram deixados para o rival numa zona que começava na defesa e ia até o círculo da meia cancha millonaria. Ficou fácil para Mugni tramar por ali. Resultado disso foi que aos 29, Curuchet recebeu a pelota, seguiu com ela e chutou. No rebote de Barovero, Emmanuel Gigliotti guardou: 2×1 River.

De repente o que era só intenção virou pressão. O conjunto sabalero foi para cima do Millo, que não sabia mais como proceder. Mesmo com as entradas de Iturbe e Chino Luna o River não conseguia reter a pelota no meio e no ataque. Aos 38, até que teve um contragolpe e por pouco “El Paraguayo” não amplia. Só que quem já mandava no cotejo era o visitante.

Para a sorte do Millo, esse mando do rival não significava muita coisa. O jogo não significou muita coisa. O River foi infinitamente superior ao Colón porque este esteve infinitamente distante de uma equipe apresentável para o futebol profissional. Desta forma, o verdadeiro significado do resultado foi que ele devolveu ao conjunto de Ramón a liderança provisória da competição. Nada mais.

San Lorenzo 0x1 Tigre

Em Nuevo Gasómetro, o Tigre visitou o San Lorenzo e saiu com a vitória. Sua tradução resume-se a alguns pontos que têm se repetido nas apresentações do conjunto matador. Uma linha de três homens bem armada e com certa agilidade, atrás. Quatro homens combativos, mas que sabem sair com a pelota, no meio; além de mais dois homens transitando do meio para o ataque, mas nem tanto com a função de atacar o rival, mas com a de acionar quem está la na frente, no ataque.

No caso, era Emmanuel Gigliotti quem esperava pela pelota. De solitário ele não tinha nada. É que a mobilidade de Botta superava mais uma vez as expectativas. Ora enganchava, ora partia com a pelota cheio de confiança e categoria. E foi justamente em uma de suas saídas que surgiu o gol matador. Após boa jogada individual, o talento do Tigre arrematou duas vezes para o arco de Migliore. No segundo arremate, a pelota encontrou a mão de Mauro Cetto, dentro da área. Na cobrança de penal, Botta guardou: Tigre 1×0, aos 28 minutos de jogo.

Até então, o San Lorenzo tinha bem mais a posse de bola e pecava só em definir bem as jogadas de ataque. Após o gol, o Matador se retraiu de vez e dificultou muito a vida do Ciclón. Todo o campo foi oferecido ao San Lorenzo. Seus jogadores transitavam facilmente para o ataque e parecia que os cuervos chegariam logo à igualdade. Não chegaram.

Bastava levar a bola até a defesa do Tigre para os defensores da meta de Garcia se agigantarem. Foi assim do começo ao fim. Após o apito de Diego Ceballos, o conjunto de Pipo Gorosito pode comemorar uma importantíssima vitória. O que recoloca nuvens em Boedo, por um lado, e oferece, por outro, a tranquilidade desejável para o conjunto de Victoria seguir distante da zona da degola e vendo à classificação na Libertadores como algo possível de ser conquistado.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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