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Nostalgia da Copa – Argentina 0×1 Alemanha – 1990

Hoje começamos nossa série especial sobre as principais partidas da Seleção Argentina nos Mundiais. Iremos relembrar os melhores momentos assim como algumas seleções que marcaram o futebol Mundial. Damos início com a dolorida derrota contra a Alemanha, na Copa de 1990, na final daquela Mundial.

08 de julho de 1990. Argentina e Alemanha repetiam a grande final da Copa anterior. As mesmas seleções, com os mesmos treinadores. A ocasião era novamente uma final de Mundial. Mas a emoção que as duas equipes conseguiram proporcionar aos fãs de futebol foram muito menores.

Aquele jogo entrou para a história como uma das piores finais de copa do mundo. Além disso, o próprio mundial não deixou muitas saudades. Aquela Alemanha que terminou campeã havia começado muito bem, com um sonoro 4 a 1 sobre a Iugoslávia, mas foi perdendo brilho até se transformar numa das menos memoráveis seleções campeãs do mundo, a despeito de ter jogadores de altíssima qualidade.

Já a albiceleste de 1990 entrou para a história de forma muito negativa (no Brasil por certo isso é mais forte, dado que nossa seleção foi eliminada exatamente pelos eternos rivais). A equipe era de fato muito defensiva. Maradona não era o mesmo de quatro anos antes, e a equipe se arrastou até aquela final. Certamente é a equipe de pior campanha a ter disputado uma final de mundial: no fim foram apenas duas vitórias (URSS e Brasil), três empates (Romênia, Iugoslávia e Itália) e duas derrotas (Camarões e Alemanha).

Mas o fato é que pode-se tentar olhar de outra maneira para aquela equipe. Aquela seleção era consideravelmente inferior a que havia sido campeã quatro anos antes. Maradona jogou o mundial lesionado, no sacrifício. Pumpido se contundiu ainda na primeira fase e ficou de fora do restante do mundial. E naquela final, a albiceleste havia perdido três jogadores por suspensão, incluindo Claudio Caniggia, autor dos gols salvadores contra Brasil e Itália.

No Brasil muitos comparam a forma pela qual Maradona e Pelé são admirados por seus compatriotas. A relação mais emotiva dos vizinhos com Maradona é freqüentemente atribuída à passionalidade dos argentinos. Mas essa não é toda a história. A questão é que Maradona não é Pelé. Independente de quem foi melhor, o fato é que os supercraques realizaram feitos bastante diferentes.

Se em 1986, Maradona havia sido o gênio, em 1990 foi o herói. Muito prejudicado por sua lesão, tinha pouca mobilidade, e quase não participava dos jogos. Mas mesmo assim, usou brilhantemente o medo que os adversários tinham dele, foi o grande líder dentro do campo e em alguns momentos de fato conseguiu brilhar.

Naquela copa, o mito de Maradona se consolidava de vez. Aquela Argentina não tinha um Garrincha para carregar a seleção na ausência do seu Pelé, e nem ao menos um Amarildo para substituí-lo com competência. Maradona teve de ser o valente guerreiro.

E aquela enfraquecida albiceleste ainda teve de enfrentar um clima hostil na grande decisão, já que havia posto um fim ao sonho dos italianos nas semifinais. E a população local deixou isso claro ao cometer a inaceitável descortesia de vaiar o hino argentino. E as câmeras flagraram muito claramente o palavrão que Maradona soltou nesse momento.

Quando a bola rolou as emoções demoraram a aparecer. A frágil seleção argentina se mantinha como sempre na defesa, esperando por um contra-ataque que não vinha. Os alemães pressionavam, tinham a posse da bola, mas pouco conseguiam realizar. Na maior parte do tempo se contentaram em rondar a área argentina e tentar jogadas pelo alto.

O jogo se desenvolvia lentamente, sem maiores esperanças de gol, e aos 20 minutos do segundo tempo a albiceleste ficou com um a menos, pela expulsão do zagueiro Monzón por violenta falta na lateral. A Argentina só teve a opção de se retrancar de vez, e quando retomava a bola tentava prendê-la, para fazer o jogo passar, enquanto esperava poder achar uma bola parada, uma jogada de Maradona, ou, no limite, chegar aos penaltis.

Mas a seis minutos do fim veio o controvertido lance que definiria aquele mundial. Um passe em profundidade para Rudi Voller, que dividiu com Lorenzo. A bola rolou para a linha de fundo, enquanto o atacante alemão ficou no chão. O árbitro mexicano Edgardo Codesal apontou a marca de penalti, para desespero dos argentinos, que se descontrolaram totalmente, tendo mais um expulso, o atacante Dezotti.

Na época, a equipe da TV Globo que transmitia a final foi unânime em apontar o erro do juiz mexicano (Galvão Bueno e Arnaldo César Coelho em especial). Os argentinos até hoje reclamam do lance. Mas não houve jeito. Demonstrando incrível frieza, o ala esquerda Andreas Brehme bateu com precisão e venceu Goycochea, grande pegador de pênaltis. Nos cinco ultimos minutos a Argentina tentou pressionar, mas pouco pôde fazer com dois jogadores a menos.

A Alemanha era tricampeã do mundo, e coroava uma de suas melhores gerações com um título mundial, ainda que manchado por um mundial desinteressante e definido com um gol polêmico. Em retrospecto, para a Argentina a coisa não foi tão ruim. Chegou até a decisão com uma equipe desacreditada e de poucos recursos técnicos. Seu maior jogador, mesmo lesionado, havia escrito um dos capítulos mais impressionantes de sua trajetória e se transformaria de vez no maior ídolo do futebol de seu país.

Alemanha 1
Ilgner, Augenthaler, Buchwald e Köhler; Berthold (Reuter), Mattheus, Brehme, Haessler e Littbarski; Voller e Klinsmann
Técnico: Franz Beckembauer

Argentina 0
Goycochea, Simon, Ruggeri (Monzon) e Serrizuela; Sensini, Lorenzo, Basualdo, Burruchaga (Calderón) e Troglio; Maradona e Dezotti
Técnico: Carlos Bilardo

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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