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Racing e Independiente igualam no clássico de Avellaneda

Clássico de Avellaneda funcionaria da seguinte forma: Racing jogaria para manter sua dignidade no torneio local, enquanto o Independiente buscaria os três pontos para seguir na luta pelo caneco do “Argentinão”. Em campo, contudo, ninguém jogou nada. Final foi 0x0. E foi algo feio de ver. Pior para o Rojo, que perdeu a chance de encostar no líder do zonal A, o Godoy Cruz. Já “la Acadé” tá nem aí para o resultado. Respeito ao Rojo é inquestionável, mas, neste momento, cabeça mesmo tá toda centrada no Galo, o rival da Libertadores; visita que terá no Cilindro de Avellaneda.

A partida

Antes do jogo o clima era de festa. Nem tanto pelos 11 jogadores que entrariam em campo para o Racing, já que muitos reservas estavam entre eles. Mas a festa era outra e o Cilindro era palco para uma reverência profunda: um bate-palmas para “el Príncipe” Diego Milito. Seria seu último clássico de bairro e a torcida não se esqueceu de afagar seu coração. Chuva de papel picado na grama; imagens do Príncipe, nas mãos das pessoas, nas arquibancadas do Domingo Perón. Espetáculo emocionante como prévia de um jogo sem-graça, sem grandes emoções, modorrento.

Em campo, no início, o Rojo fez duas linhas de quatro bem compactas e com forte marcação no campo de defesa de Campaña. Ideia era a de tirar o “fogo” do Racing e apagar sua vontade louca de buscar o arco do porteiro visitante. Ocorre contudo que esqueceram de combinar com o Racing. Fato é que a equipe de Sava entrara em campo com uma equipe mista, mas até os torcedores menos otimistas não imaginavam tamanha modorra de sua equipe. Então, tinha um time que não jogava, pois tinha “medo” de um rival que não desejava colocar medo em ninguém. Resultado disso? Jogo besta. Nada além disso.

Passados alguns minutos e o Rojo se deu conta de que o Bicho não era tão feio. Resolveu apertar na retomada da pelota no balão do meio-campo. Redonda recuperada e saída rápida rumo ao arco defendido por Saja. Nada de glorioso, no caso, mas o suficiente para tatuar nas retinas de todos quem foi a melhor equipe dos primeiros 45 minutos.

Na segunda etapa, a equipe local entrou do mesmo jeito, muita correria e afobação. No entanto, o volume de jogo respondia a uma melhor marcação na primeira linha à frente de Saja. Por certo que este foi um ajuste de vestiário. Não apenas alguns erros deixaram de existir como a qualidade do passe se mostrou presente nas jogadas com começo, meio e fim. Se na primeira etapa, o Racing insistia muito pelo setor direito, com Díaz, Tito Noir e até Roger Martínez, que jogava livre, mas que caía principalmente pela extrema direita, no segundo tempo as coisas se inverteram. O setor esquerdo foi mais acionado, com a presença de Martínez e Aued, que partia então da esquerda para o centro da área. Já o Rojo, demorou para entrar no jogo, na etapa final. Sua proposta era a mesma, explorar o setor direito, apostando nas falhas defensivas de Nico Sánchez e Voboril. Fez errado em delimitar os limites em que a defesa local fazia feio; não era só pelo setor direito, mas também por onde jogavam Cabral e Diaz.

Foi então que Sava levou a campo o meia Óscar Romero. Entrou no lugar de Milito, que deixava o campo naquele que foi seu último clássico de Avellaneda. Além disso, a preocupação era a de poupar o craque para o confronto diante do Galo, pela Libertadores, no meio de semana. Romero deu outra dinâmica à equipe do Racing. Minutos depois, também Licha López foi para o jogo. Com isso, o Racing ganhou consistência na armação das jogadas. A pelota circulava pelos pés de quem sabia manejá-la e pelas trincheiras inexploradas do campo. Presença de Romero corrigiu outro problema. Roger Martínez precisava correr de um lado a outro para compensar a pouca presença do Racing no ataque. Isto obrigava Milito a jogar sozinho e se sacrificar, correndo de um lado a outro na busca desesperada da pelota.

Entrada de Romero, importou para fixar Martínez na posição correta, trazer Auded para o jogo diagonal do centro para a esquerda, para abrir espaço para o paraguaio, além de permitir que o conjunto local tivesse um camisa 9 na posição correta, pivoteando e abrindo e permitindo as infiltrações de quem partia do campo de defesa. A partir daí, só deu Racing. As chances de gol foram inúmeras, sobretudo nos cinco minutos finais. Não fosse por Campaña e o Rojo por certo que perderia o clássico de Avellaneda. Sorte do visitante se materializou na presença relevante de seu guardametas e no pouco tempo em que Óscar Romero esteve em campo. No fim, o resultado ficou de bom tamanho para o Independiente, embora o distancie da briga pelo caneco. Já o Racing deixou claro que com seus titulares a equipe tem outro padrão. E que o dono de seu meio-campo não é um argentino, como a eterna promessa De Paul, mas um paraguaio, o Óscar, o habilidoso irmão do atacante do Corinthians.

Formações

Racing: Sebastián Saja; Gastón Díaz, Yonathan Cabral, Nicolás Sánchez, Germán Voboril; Ricardo Noir (Licha López), Federico Vismara, Luciano Aued, Rodrigo De Paul (Facundo Pereyra); Roger Martínez e Diego Milito (Óscar Romero). Técnico: Facundo Sava.

Independiente: Martín Campaña; Gustavo Toledo, Hernán Pellerano, Víctor Cuesta, Nicolás Tagliafico; Jesús Méndez (Germán Demis), Jorge Ortiz; Claudio Aquino, Cristian Rodríguez (Diego Vera), Emiliano Rigoni (Martín Benitez); e Leandro Fernández. Técnico: Mauricio Pellegrino.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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