Primeira Divisão

Clássicos Zero. No Super, Boca x River sofrem com maior jejum de gols em 27 anos

A expectativa era alta pela rodada dos clássicos. A impressão que ficou foi de decepção, ainda que o sábado houvesse sido razoável, com San Lorenzo e Lanús afirmando-se ou reforçando a liderança em seus respectivos grupos. Mas o domingo, reservado às três principais rivalidades argentinas, não viu qualquer gol entre elas.

O primeiro clássico da rodada foi o santafesino, historicamente o mais equilibrado da Argentina. Até 2013, o Colón tinha mais vitórias, o que foi revertido no dérbi passado, histórico também por outras razões: o Unión conseguiu sua maior vitória, que foi também o maior triunfo que Santa Fe viu na casa adversária. O 3-0 no Cementerio de Elefantes não foi vingado pelos rubronegros. Na casa alvirrubra, o Tatengue ampliou sua vantagem no clássico com um gol aos 40 do segundo tempo, com Lucas Gamba, pela esquerda, definindo com curva na saída do goleiro Jorge Broun.

A seguir, o San Lorenzo recebeu o Huracán no Nuevo Gasómetro, um verdadeiro talismã azulgrana. O rival só venceu uma vez lá o clássico portenho, em 2001, e ainda assim porque o mandante poupara titulares para priorizar as finais da Copa Mercosul (tempos em que o Sanloré não tinha nenhuma taça continental).

O tanque huracanense Ramón “Wanchope” Ábila insinuou, mas não teve tarde calibrada. Já Nicolás Blandi, em jogada aparentemente ensaiada, marcou o único gol emendando um cruzamento pela esquerda, jogada que tentara sem sucesso no primeiro tempo. Ainda houve um pênalti perdido por Néstor Ortigoza, que acertou o travessão de Marcos Díaz a dez minutos do fim. Quando faltavam dois minutos, polêmica: Ábila foi derrubado na grande área, mas o árbitro não assinalou o pênalti.

O 1-0 colocou o San Lorenzo na liderança do Grupo 1, compartilhada com o Godoy Cruz, que ao mesmo tempo venceu pelo mesmo placar o San Martín de San Juan no dérbi da região do Cuyo, gol de Santiago García. A seguir, o Lanús recebeu o Banfield para um clássico memorável no Sul da Grande Buenos Aires. Antes dos vinte minutos de jogo, os grenás perderam Iván Marcone, que conseguiu a proeza de receber dois cartões amarelos em cerca de um minuto.

Para piorar, o artilheiro José Sand teve um pênalti defendido por Hilario Navarro. Mas o Lanús perseverou e garantiu um 2-0 com Miguel Almirón e um golaço do reserva Víctor Ayala. O resultado ampliou momentaneamente a liderança grená para seis pontos no grupo 2.

O domingo de clássicos se encerrou também de forma histórica, mas com um mal prenúncio. O Estudiantes visitou o Gimnasia LP, sem vitórias desde 2010 no dérbi de La Plata (desconsiderando-se amistosos). Os alvirrubros precisavam vencer para manter a distância para o Lanús em alcançáveis três pontos. Ficaram no 0-0 em uma partida tosca.

Os alviazuis também não saíram felizes: acumularam o 11º clássico não-amistoso seguido sem vencer, quebrando um dos poucos orgulhos do Lobo, os dez clássicos invictos que reuniram na virada dos anos 80 para os 90. Apesar do resultado, foi um sábado satisfatório. O blog esportivo e humorístico En Una Baldosa se empolgou: “compartilhe se te deste conta de que estiveste todo o dia deitado vendo futebol. Curta se pensas em fazer o mesmo amanhã”.

Domingo começou com outro duelo entre um aspirante ao título e um rival sedento para pôr fim a um tabu: o Newell’s recebeu às 14 horas o Rosario Central e estava sedento para encerrar oito anos sem vitórias no clássico rosarino – na ótima fase rubronegra entre 2012 e 2013, os auriazuis estavam na segunda divisão (precisamente entre 2010 e 2013). Nas vésperas, a mensagem dos barrabravas não era nada sutil: “matar ou morrer”. A Lepra, contudo, não conseguiu se livrar do jejum nem mesmo com o remanescente Ignacio Scocco driblando o goleiro Sebastián Sosa, na chance mais clara do jogo.

Sosa também salvou arremates perigosos de Maxi Rodríguez e foi a melhor figura canalla, apesar das diabruras de Giovani Lo Celso e dos perigos de Marco Ruben. Mas em geral o nível técnico foi baixo. Desta vez, o En Una Baldosa não perdoou: “não dormimos a siesta para vermos o promissor clássico de Rosario. Não sacaneavam tanta gente desde o corralito“, em referência ao nome da medida extrema de austeridade aplicada na crise de 2001.

Se Rosario viu um 0-0 com alguma emoção, a emoção em Avellaneda se resumiu aos aplausos racinguistas a Diego Milito, que jogou o clássico com o Independiente pela última vez. Falamos aqui como foi o último clássico da rodada, um 0-0 assim como o Superclásico.

Para ser justo, até saiu gol de Iván Alonso no 2º tempo, brevemente comemorado pelos visitantes na Bombonera. Só que estava impedido. O estádio do Boca viu o primeiro 0-0 desde 1991 no principal dérbi do país, e o Superclásico amarga uma sequência sem gols inédita desde 1989.

Os xeneizes poderiam lamentar um clássico desperdiçado em casa, mas viram um time muito bem adaptado à expulsão infantil de Pablo Pérez. Aliás, o cartão vermelho dele por entrada violenta em Balanta aos 12 minutos também quebrou tabu de 25 anos.

Pavón, Tevez e, principalmente, Lodeiro, não deixaram o Boca enfraquecer no ataque, mesmo com um a menos e sem Gago, mais uma vez lesionado e substituído. Fora um chute em tiro livre que levou perigo a Orión, D’Alessandro não foi o comandante de um River mais forte.

Gallardo tentou resolver ao colocar Alonso no lugar do apagado Alario, além de Driussi. Os dois trouxeram alma nova aos Millonarios, mas, fora o gol bem anulado, não ameaçaram os Xeneizes tanto assim. Os locais criaram mais chances.

Resta aos dois times, escondidos no meio das tabelas dos dois grupos, aprenderem com as falhas de hoje, pensando na Libertadores. Ao River, falta jogar com contundência além da velocidade que já tem para passar pelo Independiente del Valle. Ao Boca, falta eficácia, para variar, se quiser se impor diante do Cerro Porteño. Se conseguirem, quem sabe enterram o tabu nas semifinais?

*Com colaboração de Caio Brandão.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

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