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Riquelme: 15 anos da estreia

Na última semana, completaram-se 15 anos de uma partida histórica: Boca Juniors 2 x 0 Unión. Aquela partida é lembrada por todos os torcedores xeneizes, mas não pelo resultado ou pela partida em si. Os que foram naquele dia à Bombonera certamente não sabiam, mas estavam prestes a se transformarem em testemunhas oculares da estréia de um dos maiores jogadores da história do clube.

Naquele dia Riquelme estava há apenas 2 meses no clube. Havia sido comprado do Argentinos Juniors por 800 mil dólares, mesmo antes de ter atuado pela equipe principal do Bicho. Após algumas partidas pela segunda equipe do Boca, o treinador xeneize Carlos Bilardo decidiu que já era a hora de colocar a jovem promessa no time titular. Segundo Riquelme, Bilardo teria lhe ensinado uma das lições mais importantes: sempre procurar os espaços vazios, para receber a bola nas melhores condições.

No entanto, Bilardo não acertou ao posicionar sua brilhante promessa em campo. O ex-treinador da seleção o via como um segundo volante, que armaria o jogo desde o campo de defesa. E foi assim que Román estreou há 15 anos, em um “doble 5” com Diego Cagna. Naquele dia o time titular do Boca teve Navarro Montoya, Vivas, Cáceres e Fabbri; Toresani, Cagna, Riquelme e Pompei; Latorre; Rambert e Guerra.

Mas apesar do time recheado de grandes nomes, não era uma boa época para os xeneizes. A tônica era a chegada e saída de jogadores de impacto, mas os resultados em campo não eram bons. Bilardo se foi, substituído por Hector “Bambino” Veira, mas o Boca só acharia seu rumo a partir da chegada de Carlos Bianchi, em 1998. Começava a fase de ouro da história do clube. E Román seria o grande protagonista. Bianchi finalmente percebeu que o melhor a fazer com Riquelme era deixá-lo flutuar livre entre o meio campo e o ataque. Os resultados foram imediatos.

Com Riquelme como 10 nato, o Boca conquistou um título invicto do Clausura 98. Depois disso, apesar das lesões, ajudou o time a ficar 40 partidas sem uma derrota sequer, além de conquistar outro título a frente dos xeneizes. O principal triunfo, no entanto, veio anos mais tarde, com os títulos da Libertadores, sobre o Palmeiras, em 2000 e sobre o Cruz Azul, em 2011, além do Mundial de Clubes sobre o galáctico Real Madrid.

Em 2002 o talento de Riquelme chamou a atenção do Barcelona, que o comprou por 13 milhões de dólares, como parte do plano de Louis Van Gaal de renovar a equipe. No entanto, apesar de boas atuações o jogador não conseguiu exercer o protagonismo que dele se esperava, inclusive pelo treinador holandês frequentemente o escalar fixo pela esquerda. Van Gaal caiu em pouco tempo, e em 2003 Frank Rijkaard chegou, trazendo jogadores como Deco e Ronaldinho Gaucho, para começar a fase de ouro do clube. No entanto, Riquelme não estava nos novos planos, e foi emprestado ao Villarreal.

Foi o grande momento de Román na Europa. Ao lado de outros sul-americanos (os argentinos Sorín e Arruabarrena, o uruguaio Forlán, o brasileiro Marcos Senna, o treinador chileno Manuel Pellegrini), Riquelme levaria o Villarreal pela primeira vez à Champions League, onde, em um desempenho sensacional, a equipe chegaria até as semifinais.

Nem o fato de Riquelme perder um pênalti que poderia classificar o time para a decisão nos últimos minutos da segunda partida contra o Arsenal diminuiu seu prestígio. Román havia quebrado o recorde de assistências da história da liga espanhola, sido eleito o melhor estrangeiro do torneio e comandado a entrada de um clube minúsculo no mapa-múndi do futebol.

Foi quando numa jogada de mestre de Mauricio Macri, até então presidente do Boca e hoje prefeito de Buenos Aires, decidiu contratá-lo novamente. Por seis meses, o clube pagou US$ 2 milhões de dólares de salário. E foram bem pagos. Tal momento foi o melhor de Riquelme com a camisa do Boca. Com a genialidade de poucos, comandou o time ao título da Libertadores de 2007, com atuações de gala principalmente na fase final, contra Vélez, Libertad, Cúcuta e Grêmio.

Contudo, o seu retorno não foi dos mais felizes no Villareall. Foi afastado por Manuel Pellegrino por forçar a sua saída do clube espanhol para retornar a Argentina. Deu resultado, é verdade, mas desde 2008, Riquelme não demonstrou o seu melhor futebol, aquele de 2007 que arrancou suspiros e o levou a eleição da France Football como um dos melhore jogadores da temporada.

Apesar de todos os problemas em sua terceira passagem como jogador do Boca, Riquelme é praticamente unanimidade em La Boca. As Libertadores conquistadas, os títulos mundiais com a camisa azul-ouro fazem com que jogador seja maior do que Maradona em meio os torcedores – basta lembrar os gritos da torcida a Riquelme durante um Superclassico na época em que Diego era técnico da Seleção. São 15 anos de história fidedigna ao clube no qual os torcedores fazem questão de relembrar dia após dia. E certamente, sentirão saudades ao quando o atleta anunciar sua aposentadoria. Enquanto isso, eles aproveitam enquanto podem e ecoam a Bombonera com gritos de Riquelme!

Com Thiago Henrique de Morais

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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