Tudo caminhava bem no clube vermelho de Avellaneda. O Rojo vinha de três vitórias consecutivas, ganhava corpo, identidade, força e voltava a impor respeito aos rivais. Além disso, apresentava credenciais que sugeriam que o time deixaria rapidamente a zona da degola. Tudo isso foi por água abaixo com a derrota para o Lanús. Além disso, Gallego perdeu Morel Rodríguez e a jovem promessa Leonel Buter, contundidos. O que fazer agora?
Quem via o Independiente nos últimos jogos precebia que o time ganhava certa identidade brigadora. Não que os seus atletas apresentassem um excelente futebol. Mas o fato de ter Tolo Gallego no banco parecia fazer toda a diferença, já que o comandante conseguia extrair o máximo possível de seu elenco. Foram três vitórias consecutivas e a apresentação de credenciais que apontavam para dois cenários positivos: a vida longa na Copa Sul-Americana e a fuga da zona da degola, que tanto tem incomodado a hinchada vermelha de Avellaneda. Então, veio o confronto contra o Lanús, no Libertadores de América.
De repente, foi como se um balde de água fria caísse sobre o ânimo do Rojo. Sua torcida se afetou, seus jogadores e até o comandante Gallego pareceu excessivamente nervosos e descontrolados diante do Granate. Dessa forma, o balde de água fria é revelador: mostra que a estabilidade vista na equipe nos últimos jogos era só aparente. O drama da equipe foi descoberto justamente quando ele parecia se encobrir pelas últimas apresentações. O drama está lá, intacto: firme.
E o drama do Rojo tem um nome: rebaixamento. Fazer uma excelente campanha no Inicial ou se dá bem na Sul-Americana nem de longe são as grandes preocupações em Avellaneda. Da mesma forma, a alegria proveniente de possíveis triunfos não chegaria aos pés da contagiante alegria que se livrar do rebaixamente proporcionaria em toda a comunidade roja.
E o responsável por isso foi a derrota de ontem para o Lanús. E foi uma derrota justa e reveladora: diante de toda a ganância do elenco, de sua aparente força, de seu afinco em disputar a pelota com sangue quente, diate de tudo isto bastaria um razoável padrão de jogo, como o apresentado ontem pelo Lanús. Foi como se os papéis se invertessem de vez: o Granate seria o grande, ainda que não produza muitas coisas e seja apenas o quarto colocado do Torneio Inicial. Já o Independiente seria o pequeno, ainda que em alguns momentos consiga ser até superior a times como Granate, dentro de campo. E para piorar a vida o Independiente, em cenários como este mesmo quando a equipe consegue ser superior ao rival – algo que não ocorreu no jogo de ontem – ainda assim deixa de levar os três pontos.
Na tentativa de encontrar um time, Gallego tem feito o que pode. É obrigado a confiar no combate de um jogador apenas modesto como Morel Rodríguez. Para a sua infelicidade, o paraguaio se contundiu ontem e vai desfalcar a equipe por três partidas. Cristián Tula entrou em seu lugar e convenceu todo mundo dos motivos pelos quais Gallego é obrigado a confiar em Morel.
Na tentativa de encontrar um time, Gallego tem procurado dar confiança às promessas das canteiras rojas. A ideia é a de utilizar um ou outro atleta jovem, em meio a jogadores mais experientes como Zapata, Battión ou Tecla Farías. Fez o preparo de Leonel Buter e colocou o garoto para jogar. Para a sua agonia, o jovem atacante nem mesmo tocou na pelota e rompeu os ligamentos cruzados do joelho esquerdo. Diante do prazo mínimo de seis meses sem jogar futebol, as lágrimas de Buter não foram tão profundas quanto os lamentos de Gallego.
Diante deste cenário, a equipe vai ao Chile pegar a Católica na difícil cancha de San Carlos de Apoquindo. Sem Morel, o treinador pretende recuar Ferreyra para o setor e posicionar Macuello como primeiro volante. Além disso, “el Tolo” vai precisar queimar processos de formação e relacionar outras promessas da base, como o lateral-esquerdo Lucas Villalba, de apenas 18 anos.
E para complicar a vida do treinador, os mesmos 23 jogadores relacionados para o confronto em San Carlos de Apoquindo serão os mesmos que desembarcarão em San Juan, onde o Rojo fará, no domingo, uma de suas finais pela permanência na elite argentina. E o cenário que se apresenta neste contexto faz pensar: O rival do próximo domingo tem o único compromisso de somar pontos para se garantir na primeira divisão. Enquanto o Independiente se desgasta em várias frentes, e a cada dia manda mais um para a enfermaria, o San Martín apenas descansa, estuda o rival, se prepara mental e taticamente para o confronto. Enfim, espera por um cambaleante adversário, sabendo de todas as suas fraquezas e conhecendo os segredos que revelam a sua falsa potência.
Assim como o San Martín, outros adversários vão esperar pelo conjunto dirigido pelo Tolo e, a cada dia, aumentando suas expectativas de tirar “uma casquinha” do “Gigante vermelho” e de encaminhá-lo pouco a pouco à segunda divisão. Sem muitas alternativas para fugir desta armadilha, já passou da hora da comissão técnica e dirigentes do clube de caírem na real. Como um time pequeno atualmente, e muito distante da época áurea do “Rey de Copas”, o Independiente deveria agradecer a Católica por uma sonora derrota em San Carlos de Apoquindo. Uma derrota para não deixar lamentações e para sepultar de vez aquela falsa impressão de que fosse possível seguir, ou coisa parecida. É preciso sepultar, ao menos por um tempo, o “Rey de Copas” e fazer nascer o espírito de time pequeno, que atualmente faz parte da identidade do clube, dentro de campo.
Sem esta preocupação, times da “mesma estatura” do Rojo, como o San Martín, Rafaela e Quilmes poderão ficar na elite argentina, enquanto o Independiente não somente cairia para a B Nacional como poderia descer alguns degraus na escada que o coloca no mesmo patamar atual dos rivais citados acima.
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