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Grondona dá explicações sobre as relações entre AFA e as barra-bravas

Em depoimento dado na última quinta-feira à Comissão de Esportes, composta por deputados federais, o presidente da AFA, Julio Humberto Grondona, foi à Câmara para dar explicações sobre a relação da entidade com as barra-bravas. Como esperado, ele negou qualquer ligação, sendo taxativo: “Nos 32 anos que sou presidente jamais negociei com os barras“, se defendeu o dirigente. Vinte deputados estiveram no depoimento.

Vale lembrar que a mesma Comissão de Esportes que interrogou Grondona participou de um churrasco no complexo da AFA em Ezeiza, antes da Copa do Mundo da África do Sul. Na ocasião, os deputados foram ao local para averiguar mais detalhes sobre o programa “Fútbol para Todos”. No fim do evento, todos os deputados ganharam lembranças da entidade.

Um dos deputados que fazem parte da Comissão tem como assessor um advogado que está envolvido no assassinato de um torcedor do River, ocorrido em 2007. Segundo o jornal La Nación, o advogado Rubén Reznick trabalha com o deputado Gerardo Milman (GEN) nos assuntos relacionados a segurança esportiva. Ainda segundo o diário, Reznick está envolvido no crime pois os celulares usados no dia do crime por Pablo “Bebote” Alvarez, chefe da barra do Independiente e outros barras do River envolvidos no assassinato são de propriedade dele.

Além disso, segundo o jornal Olé, Reznik foi o advogado que defendeu cerca de 20 membros da Guardia Imperial, a barra-brava do Racing, pelo assassinato do torcedor Gustavo Rivero, ocorrido em 2002. O deputado Milman não esteve na Câmara dos Deputados pois está em Barcelona. No entanto, ele reconheceu sua relação com Reznik via e-mail.

A presença de Grondona na Câmara não passou despercebida para alguns deputados que não fazem parte da Comissão. Eles entraram na sala onde o dirigente estava e aproveitaram para interpelá-lo sobre a inclusão de alguns barras no mesmo voo que a delegação argentina, na ida à África do Sul. Grondona se defendeu: “Não tenho nada a dizer. Não sei quem é Mallo (Marcelo, braço político das Hinchadas Unidas Argentinas) e se quiserem vou com vocês à Justiça para provar”.

O presidente da AFA respondeu laconicamente quando perguntado sobre a conivência com os barras na viagem ao país africano. Disse desconhecer que os torcedores da La Banda de Lomas que entraram na concentração em Pretória foram confundidos como parte da delegação. Também afirmou que não vendeu ingressos, mesmo ao saber que os barras da HUA entraram nos estádios com ingressos de cortesia, que são oferecidos somente a patrocinadores e dirigentes.

Ainda segundo Grondona, as barras vendem os ingressos que alguém cede a eles e após isso entram no estádio sem pagar. “Não damos ingressos para ninguém”, respondeu o dirigente. Mónica Nizzardo, que pertence à ONG “Salvemos al Fútbol” e que acompanhava o interrogatório, indignou-se: “Sim, vocês dão ingressos”. Em seguida, se retirou da sala em protesto.

O deputado kirchnerista Gerónimo Vargas Aignasse acusou a AFA de ser um monopólio e propôs um projeto de lei que prevê, entre outros pontos, modificar o sistema de eleições de dirigentes da entidade: “Queremos que os 3000 clubes filiados à AFA votem, não somente 49”, explicou.

Após as declarações de Grondona, o presidente do Colón, Germán Lerche, afirmou: “Não negociamos com as barras, lidamos com elas. Sofremos ameaças, inclusive a minha família também é ameaçada”. As declarações deixaram os deputados boquiabertos, que não disseram nada. Após duas horas, o presidente da AFA saiu da sala e foi cumprimentado longamente pelos deputados, prometendo-lhes outro encontro.

Segundo a ONG “Salvemos al Fútbol”, a violência no futebol já matou 250 pessoas. A última vítima foi Luis Alberto Forlenza, um barra do Boca que morreu na Cidade do Cabo, durante a Copa. O torcedor faleceu após ter sido atacado por barras do Independiente.

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

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Alexandre Leon Anibal

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