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Covid-19 leva José Rafael Albrecht, um dos maiores defensores-artilheiros do futebol

Em novembro de 2020, o Goal.com relembrou que os 98 gols José Rafael Albrecht ainda colocavam El Tucumano entre os vinte maiores defensores-artilheiros do futebol. E isso que esse lateral-esquerdo certamente marcou muitos mais, não considerados – seja por jogos amistosos (como um 1-1 com o Corinthians em 1969 no Chile), seja por partidas da liga da cidade de Tucumán. Só pelo San Lorenzo, com o qual mais se identificou, o lateral-esquerdo marcou 55 gols oficiais (em 229 jogos), mais até mesmo que atacantes celebrados do clube, como Narciso Doval. Muitos, de pênalti, é verdade, onde só perdeu duas cobranças em 37 executadas pelo Ciclón. Com um coquetel ideal entre técnica para sair jogando e força bruta na marcação, serviu a seleção nas Copas de 1962 e 1966, sendo até o segundo jogador sanlorencista com mais partidas pela Argentina. Mas ontem já estava na miséria quando tornou-se mais uma perda para a Covid-19.

Antes do San Lorenzo

Nascido em 23 de agosto de 1941 em San Miguel de Tucumán, capital da província de Tucumán, já com fenótipo mais próximo de mestiçagem indígena do que indicador das origens alemães, ele foi profissionalizado em uma das forças locais ainda adolescente: o Atlético o promoveu ao time adulto em 1958. Eram tempos em que o campeonato argentino era restrito oficialmente à Grande Buenos Aires, La Plata e Rosario, de modo que ao Decano restava disputar a liga tucumana. Albrecht foi pé-quente: o Atlético, que desde o bicampeonato de 1937-38, só conseguira ser campeão local em 1942 e 1951, encerrara em 1957 um então recordista tetracampeonato seguido do rival San Martín. E, exatamente em 1958, tiveram aquele que é considerado o seu melhor elenco… em meio a um octacampeonato.

Albrecht ainda era visto como um integrante a mais naquela ocasião, firmando-se mesmo a partir de 1959. Bem, em 1959 o lateral ganhou primeiramente o troféu Honor, espécie de pré-temporada local valorizada na época. O clube então garantiu depois a taça anual. E foi exatamente aquele tricampeonato tucumano seguido que credenciou o Atlético à sua maior glória nacional: ao fim daquele ano, o clube juntou-se a outros campeões regionais na única edição do “Campeonato de Campeões da República Argentina”, um mata-mata com representantes das demais ligas do interior, sem times do torneio argentino.

A decisão foi contra o Quequén… e coube a Albrecht abrir o marcador aos 6 minutos. O adversário empatou, mas os tucumanos sagraram-se campeões em uma curiosa decisão por pênaltis: em tempos onde ela ainda não era critério regular de desempate (apenas em 1971 é que o campeonato argentino a viu pela primeira vez), um jogador de cada time foi encarregado de bater as cinco cobranças de cada equipe. O colega Martín Canseco acertou todas as cinco do Atlético, enquanto o representante adversário perdeu duas, naquela final em jogo único já em 30 de janeiro de 1960, na neutra cidade de Tres Arroyos.

Atlético Tucumán campeão dos campeões de 1959. Albrecht aparece em pé: é o mais baixo atrás do jogador com a bola

Embora clubes portenhos não tomassem parte do torneio, não deixaram de enviar emissários para captar talentos. Albrecht foi um dos negócios fechados, não tardando para ser aproveitado pela seleção sub-20 da Argentina ainda em 1960. Declararia, já em 2019, sobre aqueles inícios, que “tenho uma grande recordação do meu Atlético Tucumán, nasci a 20 metros do estádio, significa tudo para mim”. O ídolo também teria seu nome empregado para identificar a torcida organizada oficial dos torcedores do San Lorenzo residentes em Tucumán. Mas ele não rumou diretamente ao bairro de Boedo.

Foi com o Estudiantes que ele acertou inicialmente, ainda que demorasse até 28 de agosto para estrear oficialmente – derrota de 4-1 para o Boca pela 16ª rodada do campeonato. Não tardou a se firmar na titularidade, jogando todas as quinze partidas restantes de uma campanha terrível para o Pincha, 13º de 16 times. O reforço fazia a sua parte: em 17 de maio de 1961, conseguiu estrear pela seleção (em um 0-0 com o Paraguai) mesmo naquela péssima fase dos alvirrubros, que fizeram ainda mais feio no decorrer daquele ano; a equipe ficou em antepenúltimo, a um ponto dos lanternas Lanús e Los Andes, e só não brigou tanto contra o rebaixamento porque exatamente naquela temporada a AFA instituiu os famigerados promedios pela primeira vez.

Albrecht, do seu lado, atuou em 27 das trinta partidas, seguindo como um firme marcador pela lateral-esquerda, pois jamais marcou gols oficiais pelo Estudiantes. Mesmo sem atuar nas eliminatórias, continuou visto como oásis no elenco pincharrata, sendo chamado à Copa do Mundo de 1962. Não chegou a entrar em campo no Chile, mas cartaz não faltava ao Tucumano mesmo após uma campanha ainda mais pobre do seu clube: em 1962, os platenses foram vice-lanternas, embora salvos novamente via promedios. Jogando em 28 dos trinta jogos, ele deixou La Plata sem virar exatamente um ídolo dos principais, mas enfim saltou para um gigante nacional feito o San Lorenzo. Antes, ainda serviu a Argentina na Copa América de 1963, embora só fosse usado no duelo contra a Colômbia, o 4-2 em 10 de março.

O defensor-artilheiro dos azulgranas

Curiosamente, sua estreia pelo novo clube deu-se justamente em Tucumán, em um triangular de pré-temporada na terra natal. Foi em 20 de abril de 1963, em vitória de 2-0 sobre o Central Norte (clube representado na Copa do Mundo de 1930 por Alberto Chividini, depois outra glória tucumana no San Lorenzo, aliás), gols de Héctor Facundo, colega de Albrecht na Copa de 1962, e do jovem Narciso Doval – foi exatamente aquele o primeiro gol do futuro ídolo flamenguista e tricolor pelo time adulto do Ciclón. Apenas 24 horas depois, o San Lorenzo voltou a campo, agora para enfrentar o Atlético. O primeiro gol de Albrecht como sanlorencista veio aplicando justamente a lei do ex, embora não impedisse uma derrota por 2-1 para os antigos colegas; eis aí um dos gols “esquecidos” na contagem oficial do craque. A estreia dita “oficial” viria dali a uma semana, em 28 de abril, contra o River, na rodada inaugural da liga argentina.

Foi ainda como jogador do Estudiantes que ele chegou à seleção. Foto de 1965, antes da primeira vitória da Argentina em La Paz sobre a Bolívia: José Luis Luna, ele, Luis Artime, Ermindo Onega e Oscar Más. O único ausente da Copa de 1966 foi Luna

A estreia não foi das mais auspiciosas (goleada sofrida de 4-0) e aquele San Lorenzo terminaria o ano de 1963 em oitavo, ainda que em tabela embolada a apenas cinco pontos do bronze. Curiosamente, o primeiro gol “oficial” de Albrecht como cuervo (e no campeonato argentino) também foi para aplicar a lei do ex, em derrota de 3-2 para o Estudiantes em La Plata, na sexta rodada. Registrando já 25 partidas na temporada de estreia, El Tucumano marcou ainda outro gol, para dar a vitória sobre o Racing dentro de Avellaneda.

Ainda com 22 anos, já era considerado um veterano no elenco irreverente carinhosamente apelidado de Los Carasucias, “Os Cara-Sujas”, gíria argentina para moleques. Que, na rodada final, até gol contra proposital marcaram na derrota de 9-1 para o Independiente, em protesto contra uma péssima arbitragem que havia expulsado Albrecht sem aplicar o mesmo critério ao jogo duro do Rojo. A falta de maturidade geral limitou-os a vencer somente um troféu de pré-temporada em 1964, a Copa Jorge Newbery, um hexagonal envolvendo os quatro dos cinco grandes argentinos mais o então “sexto grande” Huracán e o Vélez, enquanto o Independiente se ocupava com a Libertadores: Albrecht marcou no 3-1 sobre o Racing, no 2-2 com o River e no 4-1 no Vélez. Detalhe: nenhum ainda de pênalti, inclusive pelo cobrador oficial ser o classudo Oscar Rossi.

No campeonato propriamente de 1964, o Ciclón deu mostras de melhora: e foi exatamente a temporada que viu florescer em Albrecht um defensor artilheiro, com oito gols em 21 jogos; apenas um foi de pênalti, no 2-0 sobre o Newell’s. Até marcou duas vezes, em um 4-0 no Argentinos Jrs, além de outro no Estudiantes em La Plata, agora em um triunfo por 4-1. Apenas os atacantes Fernando Areán e Héctor Veira, dois daqueles Carasucias, fizeram mais gols que o lateral. A temporada só não foi melhor ao Tucumano porque uma suspensão o fez perder a conquista da seleção na Copa das Nações, a maior glória da Argentina até a Copa de 1978. Mas, em 1965, ele já foi o vice-artilheiro do elenco na temporada, abaixo apenas de Doval: foram dez gols em 33 jogos. Em três partidas, até conseguiu dobletes: 3-1 no Newell’s dentro de Rosario e 4-1 no returno, em Boedo; e em derrota de 3-2 para o Vélez, fora de casa.

Mas foi uma temporada mais calamitosa. Mesmo sendo o único time a bater o campeão Boca dentro da Bombonera, o Ciclón terminou só em oitavo; e Albrecht teve até curtos-circuitos com a diretoria azulgrana, declarando à imprensa que o clube era “grande na hora de jogar contra o Boca e River”, mas se equivalia “ao Sacachispas na hora de pagar”, em referência a um simpático timeco da terceira divisão na época. Ele chegou mesmo a ter contrato rescindido após a insubordinação, mas a celeuma logo foi serenada. Pudera: foi o ano em que Albrecht firmou-se na seleção, registrando nove partidas oficiais, a mesma quantidade somada de partidas oficiais que atuara entre 1961 e 1964. Titularíssimo nas eliminatórias, que incluíram a primeira vitória da Argentina sobre a Bolívia na altitude de La Paz, El Tucumano foi confirmado para a Copa de 1966.

Imagem do San Lorenzo campeão invicto em 1968: Carlos Buttice (depois jogador do America, Bahia e Corinthians), ele, Antonio Rosl, Roberto Telch, Oscar Calics e Sergio Villar; Pedro González, Carlos Veglio, Rodolfo Fischer (depois do Botafogo), Victorio Cocco e Héctor Viera (Palmeiras e Corinthians).

Mas sua participação no Mundial ficou mais marcada por um fator negativo: foi o primeiro argentino expulso na história das Copas, no pega contra a Alemanha Ocidental, após um pontapé em Helmut Haller na segunda partida: “peguei nele no joelho, no músculo e no quadril. Como voou”, admitiu ele – que, porém, rechaçava ser maldoso: “eu sempre respeitei o rival. Não digo que não batia, mas tinha uma virtude, pegava forte, mas de frente”. No restante de 1966, Los Carasucias do San Lorenzo ficaram a dois pontos do pódio, em quarto. Foi a temporada em que Albrecht virou cobrador de pênaltis, marcando assim quatro dos cinco gols oficiais ao longo das 24 partidas em que foi usado na temporada. Faceta logo emulada na seleção, onde não chegou a ser crucificado pela expulsão (estivera em campo na polêmica eliminação contra a Inglaterra, inclusive): foi até o capitão dela na Copa América de 1967, realizada em janeiro. Nela marcou seu primeiro gol pela Argentina, exatamente na marca do cal, fechando um 4-1 no Paraguai na estreia.

A Albiceleste bateu na sequência a Bolívia, a Venezuela e o Chile e chegou à rodada final podendo empatar com o anfitrião Uruguai para ser campeã, mas a Celeste fez valer o fator casa e terminou com o troféu. Pelo San Lorenzo, Albrecht marcou de pênalti todos os seus seis gols oficiais de 1967 em 29 jogos. Novamente, ainda faltava aquele toque final aos Carasucias, a dois pontos da classificação aos mata-matas do Torneio Metropolitano, novo nome do campeonato argentino. Mas, em 1968, enfim eles viraram Los Matadores. Treinados pelo brasileiro Tim, os azulgranas fizeram história como primeira equipe argentina campeã de modo invicto na era profissional. “Tim me dizia: ‘sei que você joga de memória, mas quando sobes, não se esqueça de que os rivais têm centroavantes’”, lembrava El Tucumano, que chegou a jurar que não jogaria mais se perdessem aquela taça; ele e colegas, além de invictos, foram donos do melhor ataque (44 gols) e da melhor defesa (10) e, na fase inicial, ficaram a simplesmente doze pontos de vantagem do segundo, em época onde a vitória só valia 2.

Na campanha história, ele contribuiu com quatro gols, convertendo pênaltis no 1-1 com o Platense (curiosamente, fez também contra, assinalando o do adversário) e no 3-0 com o Banfield e marcando com bola rolando nos 4-0 sobre o Colón e no 1-0 em La Plata sobre o Estudiantes – posteriormente o time batido na final, semanas após conquistar a Libertadores. Calhou, contudo, de o Metropolitano ainda não classificar na época para a própria Libertadores, com as duas vagas argentinas ainda sendo destinadas ao campeão e ao vice do outro torneio do calendário, o Nacional – a reunir os melhores do Metropolitano com os classificados de uma seletiva do interior. O Ciclón ficou apenas em sétimo e Albrecht marcou apenas no 3-2 sobre o Huracán de Bahía Blanca, em outro pênalti.

Em 1969, o San Lorenzo já passou mais longe da classificação aos mata-matas do Metropolitano, com Albrecht inclusive perdendo pela primeira vez um pênalti. Pela Argentina, ele converteu: nas eliminatórias, ainda travadas em grupos triangulares onde só o líder se classificava, ele marcou o único gol do triunfo sobre a Bolívia em Buenos Aires. Depois, foi a vez de receber o líder Peru, sendo preciso batê-lo para se garantir no México. Mas a Blanquirroja não tremeu na Bombonera e vencia por 1-0 até os 37 minutos do segundo tempo, quando El Tucumano empatou, em mais um penal. Mas a reação esfriou: apenas dois minutos depois, Oswaldo Ramírez marcou pela segunda vez a favor dos peruanos. Ainda houve tempo para Alberto Rendo empatar tudo de novo, mas ele próprio mal comemorou o gol.

Arrepiando contra o Corinthians no amistoso no Chile em 1969: um dos gols não oficiais de Albrecht veio nesse 1-1

Ficou-se no traumático 2-2 e, pela única vez, a Argentina deixou de ir a uma Copa do Mundo por desclassificação no campo (entre 1938 e 1954, as ausências foram por fatores políticos). Aquele foi o amargo fim de ciclo para Albrecht e outros a serviço da Albiceleste. Ele atuou ao 34 vezes por ela como sanlorencista, sendo na época o jogador que mais vezes defendeu oficialmente a Argentina vindo do time do bairro de Boedo – sendo desde então superado apenas por Jorge Olguín, campeão da Copa de 1978. Foram ainda cinco partidas oficiais vindo do Estudiantes e 21 jogos não-oficiais, contra clubes, combinados ou seleções não-reconhecidas. No resto de 1969, faltou dois pontos para a ressaca ser amenizada: foi o que separou o San Lorenzo do título do Torneio Nacional, ainda que aquela edição seja mais lembrada pela disputa direta entre o campeão Boca e o River.

O lateral marcou três vezes: no 3-2 para o próprio Boca na rodada inicial, no 5-0 sobre o velho rival pessoal San Martín de Tucumán (o único de pênalti) e no 1-1 com o timaço do Chacarita recém-campeão do Metropolitano. No Metropolitano de 1970, o time teve pinta de campeão, mas novamente terminou dois pontos abaixo do vencedor, o Independiente. Os troféus viriam na pausa do calendário, nas tradicionais competições de verão na Espanha bem valorizadas na época: a derrota inicial de 1-0 para o Sevilla foi seguida de 3-2 no Anderlecht, 1-1 com o Valencia (vencendo-o nos pênaltis por 5-4 para ficar com a Copa Costa Brava), 5-0 no Borussia Dortmund, 2-0 no Hércules (obtendo a Copa Toruella), 3-1 no Racing Santander (ganhando a Copa Real Santander) e 0-0 com o Ferencváros no tradicional Troféu Teresa Herrera, que ficaria pelos pênaltis com os húngaros.

Na volta à Argentina, o lateral então teve sua noite mais recordada pelo San Lorenzo: acertando dois pênaltis e aparecendo outras duas vezes como elemento surpresa no ataque, marcou quatro gols no 6-3 sobre o Gimnasia, quebrando um recorde de mais de trinta anos; até então, o velezano Victorio Spinetto era o único jogador de retaguarda a lograr uma tripleta na liga argentina, em 1937. Naquele ano, o defensor valeu-se de sua especialidade em pênaltis para marcar assim onze de seus 14 gols na temporada, que lhe valeram novamente a vice-artilharia do elenco – abaixo do meia Victorio Cocco. Mas no fim das contas o Sanloré terminou a três pontos das vagas nos mata-matas, assegurada pelo próprio Gimnasia no duelo direto na última rodada do returno; a derrota de 2-1 para os platenses foi a despedida de Albrecht, que ficou com o passe livre ao fim do certame.

Depois do futebol argentino

Ainda com 29 anos, El Tucumano buscou o pé de meia no México, mas teve um ano de 1971 memorável em sentidos bons e ruins: pelo modesto León, tanto ganhou a Copa do México e a Supercopa, além de empatar um Clásico del Bajío (o dérbi com o Irapuato), como também foi atropelado. O incidente não brecou a carreira e Albrecht consagrou-se uma figura bastante querida no León, sendo novamente campeão da Copa do México em 1972 e vice do campeonato em 1973 – inclusive marcou nas finais contra a Cruz Azul, empatando a dez minutos do fim (de pênalti) no 1-1 da primeira partida. Detalhe: era jogador-treinador dos alviverdes. Em 1974, rumou ao Atlas.

No México, pelo León e em duas imagens pelo Atlas – como no dia em que enfrentou um Pelé a serviço do combinado de Jalisco

Sua qualidade seguia fresca na terra natal: em 1975, a revista El Gráfico elegeu o time dos sonhos da Argentina e El Tucumano foi improvisado na zaga para figurar na escalação Amadeo Carrizo, Carlos Sosa, Roberto Perfumo, Albrecht e Silvio Marzolini; José Manuel Moreno e Néstor Rossi; Omar Corbatta, René Pontoni, Rinaldo Martino e Félix Loustau – e foi justamente o último desses eleitos a falecer. O argentino não solucionou a notória seca que assola o Atlas, mas também ficou reconhecido no time de Guadalajara, onde pendurou as chuteiras em 1978. Teve seus filhos no México, mas também perdeu cedo a esposa. Técnico do León até 1980, ele não conseguiu ser reempregado no futebol ao voltar à Argentina; no máximo, foi lembrado para a seleção de veteranos que disputou no início de 1989 a segunda edição da Copa Pelé.

Mas o ano de 1989 ficou-lhe mais marcado por uma suposta tentativa de suicídio em setembro, quando caiu nos trilhos da estação ferroviária no bairro de Caballito. Ficou sob coma profundo, mas milagrosamente sobreviveu sem sequelas crônicas de novo atropelamento (“imaginem a rocha que era em campo”, suspirou a revista El Gráfico). Em 2018, elegemos Albrecht como lateral-esquerdo do time dos sonhos do San Lorenzo e em 2019 o Atlético Tucumán o homenageou nas recordações dos 60 anos da mágica temporada de 1959. Em 2020, foi a vez daquela matéria do Goal.com recordar do Tucumano. Mas ele voltou à cena em 2021 pela situação financeira dificílima escancarada em 21 de abril pelo jornalista Carlos Aira, a provocar debates sobre a faceta infrutífera do sindicato de jogadores argentinos justamente quanto aos mais vulneráveis – os aposentados.

“Acabo de falar com Antonio Garábal, 86 anos [ex-jogador da seleção vindo do Ferro Carril Oeste], desesperado porque custou horrores encontrar uma cama a Albrecht. Nos últimos tempos, muitos ex-jogadores faleceram sem ajuda nenhuma. Como pode ser que Agremiados [o sindicato da categoria] só se preocupe pelos jogadores em atividade?”, twittou Aira. Uma semana depois, Aira detalhou mais em matéria publicada na Radio Gráfica: “sem ajuda de nenhum tipo, enfermo de Covid, um de seus filhos recorreu ao jornalista José Luis Ponsico em busca de uma mão piedosa. Finalmente, Albrecht foi internado no Hospital Español com um quadro grave: pneumonia com coronavírus”.

“Ponsico remarcou: ‘quase ninguém visualiza esta situação que é dramática. Pudemos internar Rafael Albrecht graças a Fernando Chino Navarro, funcionário do governo de Alberto Fernández. (…) É fã do San Lorenzo e em seguida tomou o caso. Mas é incrível como o San Lorenzo esqueceu seu ídolo. Há semanas, morreu Chazarreta com muitas penúrias. Aqui há um déficit muito grande'”. Em nota, o San Lorenzo destacou que homenageou oficialmente o ídolo usando seu nome para designar uma das arquibancadas do Nuevo Gasómetro, em 2010 e jurou no twitter que “nunca te esqueceremos, tucumano querido!”.

Nos 60 anos da campanha do Atlético Tucumán campeão do interior e em uma de suas últimas imagens públicas com as cores do San Lorenzo

https://twitter.com/SanLorenzo/status/1389287003183853575

https://twitter.com/EstadisticasSL/status/1389250040930217985

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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