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Elementos em comum entre Estudiantes e Vélez

Tradicionalmente, os grandes argentinos são cinco: Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo. Vélez e Estudiantes, que amanhã se encaram na Libertadores, são há um bom tempo os que mais têm argumentos para ocupar a vaga simbólica de “sexto grande”. Dos clubes de fora do quinteto, são justamente os de vitrine internacional mais preenchida, a ponto de serem os únicos desses de fora a ganharam o Mundial Interclubes. Se não chegam a travar um clássico, Fortín e Pincha enfim terão um duelo continental merecido, à altura também do período 2009-14, quando se alternavam frequentemente entre os títulos nacionais – com direito a uma disputa direta no Apertura 2010, ainda o último troféu argentino dos platenses.

Para muitos brasileiros, soa estranho que a dupla não seja considerada grande. É preciso resgatar que entre 1915 e 1966 o quinteto dominou todos os títulos da liga argentina, exceto em quatro conquistas do Huracán e uma do Gimnasia (sim!). Foi o período em que o futebol se sedimentou como paixão nacional, espalhando pelo país adentro torcidas naturalmente pelos clubes mais vencedores, ao passo que tanto o Estudiantes como o Vélez chegaram a ser rebaixados nesse período. O “sexto grande”, sem margem a questionamentos, era o Huracán, cujos dourados anos 20 inspiraram por toda a Argentina a fundação de diversos outros clubes com o mesmo nome.

O oligopólio foi enfim furado pelos alvirrubros em 1967 (Torneio Metropolitano). O “intruso” seguinte? O Vélez, em 1968 (Torneio Nacional), um primeiro ano de título em comum, pois foi quando os pincharratas levantaram sua primeira Libertadores (sobre o Palmeiras, inclusive) e seu único Mundial. Quando os anos 70 começaram, a equipe de La Plata, com duas novas Libertadores (1969 e 1970), chegava a ser o clube argentino com mais troféus oficiais fora do país e em 1971 ainda houve uma quarta final seguida de Libertadores, ano em que os velezanos também tiveram um dos vice-campeonatos mais amargos de sua história.

Entre 1974 e 1999, o Estudiantes teve ainda um segundo rebaixamento, mas só esteve abaixo do Independiente em retrospecto internacional – e apenas em 2018 foi igualado pelo River no quesito Libertadores. Mas, como o ciclo subitamente vencedor do Estudiantes não teve continuidade exceto por uma rápida reaparição com o bicampeonato argentino em 1982-83 (na campanha de 1982, uma vitória de 1-0 sobre o Vélez na penúltima rodada foi providencial para a manutenção da liderança), não bastou para formar uma torcida duradoura para além de La Plata – e nem para disparar nem mesmo ali na porcentagem de torcedores, permanecendo por lá um grande equilíbrio local de fiéis em relação ao Gimnasia. Aos puristas, seguia não bastando para ratificar grandeza: eram “pontos fora de curva” que faziam do Pincha algo mais próximo de uma versão argentina do Nottingham Forest.

Chilavert marcando o gol do primeiro título do Vélez (em tarde em que a listra azulada em V deu lugar a uma nas cores italianas) em 25 anos: o adversário final foi o Estudiantes

Quanto ao Vélez, sua galeria em taças internacionais supera as de Racing e San Lorenzo e só está abaixo do quinteto em títulos argentinos (aspecto este em que o Estudiantes está abaixo também do Newell’s e do desativado Alumni). Mas um segundo título demorou até 1993 (Clausura) para chegar, ainda que abrisse torneira para a enxurrada noventista: Libertadores 1994, Mundial 1994, Interamericana 1995, Apertura 1995, Clausura 1996, Supercopa 1996, Recopa 1997 e Clausura 1998. Curiosamente, a conquista que abriu os anos dourados foi garantida exatamente em um 1-1 com o Estudiantes, com direito a gol de pênalti de Chilavert, que ainda não era cobrador oficial das bolas paradas fortineras – tema que ainda voltará nessa nota.

Naqueles anos 90, já havia um diferencial em relação ao ciclo do Estudiantes: televisão. Gradualmente, o bairro portenho de Liniers foi conseguindo criar um contingente de fiéis para muito além do oeste da capital federal; os seguidores dos “novo-ricos” já ganham em quantidade com folga do Huracán no interior do país. Houve um novo ano de título em comum, refletindo o contraste da década: em 1995, o time de La Plata venceu a segunda divisão, um ano após ser rebaixado enquanto os fortineros ganhavam o mundo. Outra curiosidade é que o recém-regressado Pincha ajudou na conquista do Clausura 1996, ao impedir vitória do Gimnasia em clássico local pela rodada final. Líder com um ponto a mais, La V também só empatou seu compromisso e pôde manter-se na frente.

Após 1998, veio então uma entressafra velezana até novo ciclo vencedor, com quatro novos títulos argentinos entre 2009 e 2013 sucedendo uma conquista pontual no Clausura 2005 – assegurada precisamente no compromisso contra o Estudiantes, um 3-0 na penúltima rodada. Um ano depois, foi a vez dos platenses ressurgirem com tudo, a partir da conquista épica do Apertura 2006, finalizada justamente no estádio do Vélez. Antecedeu o vice na Sul-Americana 2008, a reconquista na Libertadores em 2009 (o terceiro ano de título em comum à dupla, pois La V papou o Clausura em meio a granizo em épico diante do Huracán) e o marcante 2010 (vice no Clausura, campeão no Apertura). Muitas peças daquele período integraram a Argentina vice da Copa 2014, ano do canto do cisne pincharrata, quando disputaram até a rodada final o título argentino do Torneio Final.

Em termos de identidade, não há nome páreo ao de Osvaldo Zubeldía na dupla. Descoberto em sua Junín natal pelo Vélez, foi um meia-atacante efetivo entre 1949 e 1955, tendo como ponto alto o vice-campeonato em 1953 – a melhor campanha velezana até o inédito título em 1968. O técnico era Victorio Spinetto, responsável por um jogo cerebral vital para as ideias do futuro Zubeldía treinador, mais preocupado com resultados, ciente das próprias limitações contra o poderio dos gigantes, do que por jogar bonito. Mentalidade que em Liniers seria retomada com Carlos Bianchi nos anos 90 e que seria muito antes replicada no Estudiantes a partir do momento em que Zubeldía chegou em 1965 para treinar a equipe 14ª colocada um ano antes. E que saltou para um 5º lugar já em 1965.

Irmão mais velho de Mauro, Rolando Zárate comemora seu gol nos 3-0 sobre o Estudiantes, resultado que assegurou o único título velezano entre 1998 e 2009: o Clausura 2005

Zubeldía ficou pelo resto da década em La Plata, levando a torcida dos grandes à loucura com o que chamavam de antifútbol, embora o termo descrevesse mais jogadas ensaiadas com o regulamento no braço (como a linha intencional de impedimento, algo novo para a época) do que por violência generalizada que o vergonhoso Mundial de 1969 tanto impregnou aos pupilos. Seguiu fiel a eles e, tricampeão continental em 1970, já estava no Huracán em 1971 quando a quarta final seguida de Libertadores foi enfim perdida pelos ex-comandados.

Detalhe menos lembrado é que esse ciclo poderia ter se dado em Liniers, pois Zubeldía negociara com o Vélez em 1964, mas com desacertos financeiros inviabilizando o regresso. Ele voltaria ao clube apenas no biênio 1972-1973, sem ter os mesmos resultados, embora um ano depois até fosse campeão argentino já no San Lorenzo; dedicamos em 2017 este Especial uma espécie de Muricy Ramalho de seu tempo. O próprio Estudiantes tricampeão seguido da Libertadores em 1968, 1969 e 1970 teve ex-gente do Vélez – e, de outro lado, o grande Vélez noventista teve gente com passado pelo Estudiantes. Segue uma lista de quem se sobressaiu ou foi no mínimo pé-quente em pelo menos um lado da dupla:

Vicente Ruscitti: lateral nas duas faixas, curiosamente formou-se no Gimnasia, onde foi lançado em 1927 e campeão pelo torneio de 1929. Chegou ao Vélez em 1932 e foi bem individualmente no 8º lugar, abaixo dos cinco grandes e da dupla de La Plata – que vinha em alta, com um recente bivice seguido do Estudiantes (1930 e 1931) e a exitosa excursão gimnasista pela Europa. Campeão de 1932, o River o contratou. Não vingou tanto e em 1934 virou a casaca em La Plata, mas em passagem de poucos jogos como pincharrata.

Felipe Ribaudo: formado justamente no tradicional rival velezano, o Ferro Carril Oeste, Ribaudo foi emprestado ao bairro de Liniers em 1963 após o rebaixamento verdolaga em 1962. Não triunfou na virada de casaca; seus únicos gols (em 12 jogos) vieram justamente sobre o Estudiantes, vazado duas vezes por ele em um 3-1 fora de casa. Estava de volta ao FCO quando foi incorporado pelo Estudiantes já na fase semifinal do Metropolitano de 1967, logo mostrando a que veio: marcou os dois gols que mataram o 3-1 na decisão contra um Racing logo campeão da Libertadores. Na Libertadores 1968, abriu o 2-0 na finalíssima com o Palmeiras. Ficou até o fim de 1969, embora já sem a mesma estrela.

O jogador e o técnico Osvaldo Zubeldía. Na foto direita, também se vê Eduardo Luján Manera (logo atrás do técnico) e Felipe Ribaudo (o jogador no canto inferior direito)

Jorge Solari: formado no Newell’s rebaixado em 1960 e líder da segundona em 1961, El Indio Solari defendeu como volante o Vélez em 1962 e 1963 como um oásis na equipe vice-lanterna naqueles dois torneios – 14 gols em 34 jogos, mesmo com uma grave lesão interrompendo uma sequência maior. De fato, dali saltou ao River e à seleção para a Copa de 1966. Chegou já em 1970 ao Estudiantes, a tempo de participar ativamente da terceira Libertadores que o clube venceu – inclusive, exercendo a lei do ex nas semifinais contra o River. Em 1971, já foi buscar um pé de meia no México. Ele ainda teria um segundo passo pelo Vélez, como treinador do elenco que avançou às semifinais da Libertadores em 1980. Curiosamente, seu irmão Eduardo Solari (pai de Santiago, ex-jogador e ex-técnico do Real Madrid) também passou pela dupla, sem tantos resultados: sucedeu em 1998 o ciclo vitorioso de Marcelo Bielsa e em 2000 virou a casaca em La Plata, pois havia treinado o Gimnasia em 1987.

Miguel Ángel Benito: formado no Quilmes, El Fantasma chegou em 1970 para ser um grande meia-atacante do elenco quase campeão do Metropolitano de 1971 e não só: esteve entre os dez maiores goleadores da história velezana no século XX (73 em 194 partidas). No Estudiantes, participou da campanha vice-campeã do Nacional 1975. O mais perto que ambos chegaram de um título argentino em uma década marcada pela seca conjunta.

Daniel Tagliani: formado no Banfield rebaixado em 1972, defendeu a zaga do Vélez entre 1973 e 1975, passou dos cem jogos pelo Fortín, aparecendo rapidamente pela seleção nas eliminatórias à Copa 1974. Chegou ao Estudiantes para o Nacional 1975, integrando o elenco vice-campeão. Chegou a virar a casaca no Oeste, vencendo com o Ferro a segunda divisão de 1978.

Héctor Ártico: zagueiro já consagrado por Talleres e River, chegou ao Vélez em 1978, participando da campanha que avançou aos mata-matas do Nacional 1978 – com direito até a seis golzinhos como elemento surpresa. Rumou ao Estudiantes, onde dois pontos faltaram para colocar os platenses nas semifinais do Metropolitano 1979 – e um para as quartas-de-final do Nacional 1980.

Carlos Ángel López: revelado no Excursionistas, apareceu no River em 1972. Não firmou-se e já em 1973 seguia carreira no Argentinos Jrs. Esse talentoso meia-esquerda então chegou ao Colón em 1974, onde realmente despontou. Lembrado na revista El Gráfico que elegeu em 2012 os maiores ídolos rojinegros, cavou transferência ao Estudiantes para o Torneio Nacional de 1975, onde integrou o elenco vice-campeão. Ainda vestiria bem a camisa do Racing, time pelo qual chegou à seleção, simplesmente brigando por uma vaga com Maradona na Copa América de 1979. Foi um dos astros que o Vélez buscou no início dos anos 80 para voltar às cabeças, com 29 partidas entre 1981 (semifinalista do Nacional) e 1982.

Trotta em um clássico nervoso com o Gimnasia e comemorando gol na rodada final do vitorioso Apertura 1995

José Yudica: um dos mais jovens estreantes da história da seleção argentina, El Piojo jogou no Vélez e no Estudiantes sem tanto brilho, em meados dos anos 60. Também os defendeu como treinador – em La Plata, no elenco que cheirou a classificação às fases finais do Nacional 1980 e, em Liniers, em 1986, havendo quem apontasse sua influência para os títulos que viriam nos anos 90. No Estudiantes, treinara o elenco que cheirou a classificação às fases finais do Nacional 1980. É que tinha um toque de Midas, embora mais visível em outros clubes: só ele e Américo Gallego foram campeões com três times diferentes, com Yudica tendo o diferencial de alcançar isso treinando equipes de fora dos cinco grandes; venceu com o Quilmes em 1978, com o Newell’s do coração em 1988 e entre eles comandou o histórico Argentinos Jrs vencedor do Nacional e da Libertadores em 1985.

Oscar Gissi: formado no Quilmes e vice-campeão nacional como cervecero em 1982, o volante defendeu o Vélez de 1984 e 1987, período que incluiu o mais perto que o Fortín chegou do título nos anos 80 – o vice-campeonato do Nacional 1985. Sua passagem pelo Estudiantes foi mais efêmera; transferiu-se de Liniers a La Plata no segundo turno do campeonato argentino de 1987-88 e logo rumou ao exterior. Radicou-se no futebol da Suíça e seu filho Dylan Gissi, nascido em Genebra, chegou a defender a seleção sub-21 daquele país enquanto estava nos juvenis do Estudiantes – curiosamente, a filha Maylis Gissi esteve no time feminino do Gimnasia na temporada 2020-21.

Eduardo Luján Manera: lateral-direito do Estudiantes multicampeão de 1967-70, foi um vencedor por lá também como técnico. Primeiramente, ganhou no clube também o Torneio Nacional de 1983, como treinador; era ele o comandante alivrrubro também na famosa “batalha de La Plata”, naquele mesmo ano. No Vélez, foi primeiramente o antecessor da Era Bianchi, cujo ciclo ofuscou o honroso vice-campeonato sob Manera no Clausura 1992. O Estudiantes recém-rebaixado em 1994 voltou imediatamente à primeira divisão com uma dupla de técnicos – um deles foi Manera e o outro ainda será mencionado nessa lista. Ainda voltou ao Vélez em 1998, mas sem o mesmo retrospecto.

Roberto Trotta: profissionalizado no fim de 1986 no Estudiantes, o temperamental defensor (ele detém o recorde de cartões vermelhos na primeira divisão argentina… e um gesto de banana à torcida do Gimnasia quase rendeu um incêndio ao negócio do pai) ficou até 1991. Eram tempos de vacas magras em City Bell. Mas sobrariam-lhe taças no seu clube seguinte, o Vélez. Na lateral-direita ou principalmente na zaga, Trotta era justamente o capitão e cobrador de faltas e pênaltis do clube (inclusive, ele também é um dos defensores com mais gols na liga argentina) até deixa-lo ao lado do mestre Bianchi rumo à Roma em 1996, deixando então livre de vez a bola parada para Chilavert. Abriu de pênalti o placar no Mundial de 1994, mas declarações posteriores minimizando a ex-equipe quando estava no River lhe queimaram para sempre com alguns fortineros.

Mesmo torcedor do Gimnasia, o goleiro Sessa comemora ao lado do agora técnico Eduardo Luján Manera o título da segundona de 1995. Dez anos depois, venceu a elite com o Vélez. Miguel Ángel Russo, ex-jogador do Estudiantes e o outro técnico alvirrubro em 1995, era o treinador velezano campeão com Sessa

Mariano Armentano, Cecilio Galeano e Leonardo Ramos: reservas no histórico Vélez de 1994, foram emprestados ainda antes do fim da Libertadores para o Estudiantes reconstruir-se na segunda divisão. Armentano, desde o Apertura 1992 em Liniers mas presente apenas na derrota dos suplentes para o Palmeiras em La Copa, seria o terceiro na artilharia do reacesso imediato do Pincha e Ramos, o parceiro de Verón na cabeça de área e que volta e meia deixava seus golzinhos também. Dali, Armentano foi repassado ao Racing e ao futebol suíço antes de figurar no Vélez campeão de 1998. O uruguaio Ramos seguiu em La Plata até 1999 e teve nova passagem na temporada 2002-03. O volante Galeano, por sua vez, não conseguiu maior relevo em toda a carreira, mas vale a menção como um raro campeão pelos dois clubes – mesmo que presente em apenas três jogos cada nas três taças em que entrou em campo por La V (Libertadores, Apertura 1995, Clausura 1996).

Héctor Almandoz: batalhador zagueiro ou lateral-direito, El Coio subiu da base em 1988 para ser figurinha carimbada do Vélez até o fim do primeiro semestre de 1995 (salvo um empréstimo ao Quilmes para a segunda divisão de 1989-90). Foi dele o penúltimo pênalti convertido na decisão da Libertadores 1994. Almandoz seguiu para o Estudiantes no restante de 1995 como reforço de peso ao clube recém-ascendido da segundona. Ficou pouco lembrado ali, rumando em 1996 ao San Lorenzo.

Gastón Sessa: assumido torcedor do Gimnasia desde que estava nos juvenis do Estudiantes, viu isso inegavelmente atrapalhar que se firmasse por lá, mas ainda assim comemorou bastante o título da segunda divisão de 1994-95 – e deprimiu-se ao ser logo descartado, precisando se lançar de verdade em novo título seguido na Primera B, dessa vez no Huracán Corrientes. Veio ao Vélez em 2001, após ter bastante importância na sobrevivência racinguista contra a degola no Clausura. Viveu de tudo em Liniers: crucificado por falhar no gol decisivo para a perda do Apertura 2004, redimiu-se com o título velezano no campeonato seguinte. Inventou de chutar o rosto de Rodrigo Palacio na eliminação para o Boca na Libertadores 2007, lance grotesco que lhe provocou uma justa causa. Mas teve sua volta a Liniers sondada já em 2008, embora optasse por enfim defender o Gimnasia do coração. Dedicamos a El Gato esse outro Especial.

Miguel Ángel Russo: como jogador, o Estudiantes (1975-88) foi seu único clube. Volante do time bicampeão em 1982-83, foi até uma ausência inicialmente questionada na seleção de 1986. Como treinador, teve ciclos vitoriosos nos mais diversos clubes argentinos – a começar pelo Lanús do seu coração, tirado da segundona em 1990 e em 1992. Essa experiência lhe valeu um retorno a La Plata para ser a dupla de Eduardo Luján Manera no Estudiantes campeão da Primera B de 1994-95. No Vélez, foi o treinador da conquista do Clausura 2005 e teve ainda um segundo passo em 2015, com sua polêmica “traição” de ir ao Boca em 2007 (onde venceu a Libertadores com direito a eliminar o próprio Vélez no caminho) já arrefecida em parte. Também teve um outro ciclo de treinador no Pincha, sob o peso de substituir Alejandro Sabella em 2011.

Carrasco em 2010, Hernán López havia sido colega do ex-corintiano Sebá Domínguez no Vélez campeão de 2009

Diego Simeone: sua imagem abre a matéria por ser a figura mais conhecida em comum. Profissionalizado ainda adolescente em 1987 pela lenda fortinera Daniel Willington em tempos de vacas magras no Vélez, El Cholo fez por onde (13 gols em 76 jogos para um cabeça de área) para chegar precocemente à seleção. O time da temporada 1989-90 ficou a quatro pontos do vice-campeonato e o volante partiu à Europa, só voltando ao futebol argentino para pendurar as chuteiras no Racing do coração. E foi em meio a uma de tantas crises institucionais no time de Avellaneda que ele apressou o fim da carreira de jogador para assumir como técnico racinguista já na rodada seguinte, no Clausura 2006. No torneio seguinte, já erguia um primeiro título na nova carreira, mas à frente do Estudiantes, campeão argentino após 23 anos – e com direito a um 7-0 no clássico com o Gimnasia. O rival se gabava até 2005 por ter mais vitórias no dérbi (contando apenas o profissionalismo) e desde então só venceu um, no já distante 2010…

Sebastián Domínguez: revelação do Apertura 2004 pelo campeão Newell’s, Sebá não emplacou como corintiano, apesar da conquista do Brasileirão 2005. Foi repatriado já em 2007 pelo Estudiantes e se deu bem – evitou participar do rebaixamento alvinegro e integrou o elenco que fechou o pódio do Clausura. Comprado imediatamente pelos mexicanos do América, reforçou o Vélez em janeiro de 2009 e foi imediatamente pé-quente, com o título do Clausura. O bom momento lhe valeu suas primeiras convocações à seleção e ele seguiu como um elogiado defensor em Liniers até 2015, adicionando os títulos do Clausura 2011, Inicial 2012 e a superfinal da temporada 2012-13. Encerrado o ciclo, voltou rapidamente ao Estudiantes antes de pendurar as chuteiras no Newell’s em 2017.

Hernán Rodrigo López: o uruguaio chegou ao Vélez para a temporada 2008-09, em cujo Clausura foi campeão como artilheiro do elenco. A fase lhe rendeu convocações à Celeste para a reta final das eliminatórias à Copa de 2010, mas pareceu efêmera. Ausente do Mundial da África do Sul, Roro López foi dispensado para o Estudiantes. Não conseguiu ser artilheiro em La Plata, mas foi por demais decisivo no Apertura: com apenas 120 minutos somados na campanha, deixou quatro gols, dois deles na rodada final. Saiu do banco para tirar do placar um 0-0 com o Arsenal, com dois cabeceios certeiros nos quinze minutos finais. O Estudiantes foi campeão argentino pela última vez até hoje, deixando de vice um Vélez que aspirava um título no ano do seu centenário.

Mariano Pavone: fora da Argentina, é lembrado como o atacante que calhou de perder um pênalti na repescagem que decretou o rebaixamento do River em 2011. Injustiça: Pavone não era craque, mas sabia ser um atacante esforçado digno do apelido Tanque. Profissionalizado em 2000 pelo Estudiantes, foi recompensando com protagonismo no título do Apertura 2006 após anos de cabeçadas em vacas magras do Pincha – até conseguindo uma chance na seleção, em 2007. Esteve no Vélez em dois momentos, em 2015 e na temporada 2016-17, com faro de gol ainda mais apurado (beirou o meio por jogo) e importante para afastar um risco real de rebaixamento que permeava o Fortín. Ainda voltou a La Plata entre 2017 e 2019, sem a mesma efetividade.

Cenas da rodada final do Apertura 2010: a careca desolada do vice Santiago Silva e a careca eufórica de Verón no único campeonato realmente disputado entre a dupla. As fotos da direita são de Mariano Pavone (a alvirrubra exibe-o comemorando seu gol no 7-0 sobre o Gimnasia, em 2006)

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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